A seca se agravou no Norte de Minas e a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) encaminhou correspondência ao coronel Carlos Frederico Otoni Garcia, chefe do Gabinete Militar do Governador e pediu a prorrogação do decreto unificado, que vence no dia 5 de novembro, pois o decreto 243, de 10 de maio, tem validade de seis meses e vence no dia 10 de novembro. São 86 municípios do Norte de Minas que estão com o decreto de situação de emergência. Atualmente são 135 munícipios em situação de emergência, sendo os outros 53 municípios do Noroeste de Minas e Vales do Jequitinhonha e Mucuri, que também estão na área mineira da Sudene.
No oficio encaminhado ao coronel Carlos Frederico Otoni Garcia, o presidente da Amams e prefeito de Padre Carvalho, José Nilson Bispo de Sá, o “Nilsinho”, pede que seja emitido um novo Decreto Estadual de Emergência, amplo e abrangente, destinado aos municípios que comprovem situação de calamidade, com o intuito de beneficiar a grande maioria dos municípios do Norte de Minas. “Além disso, atendendo ao pedido dos nossos prefeitos, solicitamos encarecidamente a continuidade da Operação Pipa e a distribuição urgente de cestas básicas como medida de ajuda humanitária. Nossos municípios enfrentam crise financeira significativa devido à queda drástica de receitas, especialmente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e estão sofrendo as diversas consequências econômicas, que têm afetado gravemente a região. A colaboração do Governo do Estado é essencial para aliviar o sofrimento da população e garantir que as necessidades básicas sejam atendidas, especialmente àqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social”, disse o líder municipalista.
O relatório agroclimatológico elaborado pela Emater da safra agrícola 2022/2023, apresentado em 17 de julho aponta que a seca causou o impacto financeiro de R$ 1 bilhão 823 milhões e 700 mil. O quadro se agravou passado três meses. Este relatório, assinado pelo gerente regional a Emater, José Arcanjo Pereira Marques, aponta que os mapas pluviométricos indicam que choveu em média na região Norte de Minas 818,72 mm no ano agrícola compreendido entre 1 de julho de 2022 a 30 de junho de 2023, com média de 53 dias efetivamente chuvosos e 312 sem chuva. As chuvas se concentraram em média 64% do volume no último trimestre de 2022 e 36,0% no primeiro trimestre de 2023. Embora o volume global de chuva na região tenha sido razoável, esta média foi bem menor em algumas microrregiões, e o fenômeno da evapotranspiração superou 1540 mm no mesmo período, em média 4,24 mm/ dia. Portanto, a precipitação pluviométrica registrada não foi suficiente para promover a recarga hídrica necessária dos aquíferos e equilibrar o balanço hídrico e reverter o quadro de seca da região.
O relatório mostra ainda que os dados da safra agrícola dos 89 municípios da região foram observados tanto perdas de algumas lavouras no início da safra como redução da produção final das culturas plantadas em regime de sequeiro, em especial milho, feijão, sorgo, soja, com área estimada em 149.700 ha. A redução da produção foi estimada em aproximadamente 52,20%. Culturas anuais como canade-açúcar e mandioca que somam aproximadamente 35.000 hectares também deverão sofrer impacto na produção em virtude da seca. No Norte de Minas existem aproximadamente 3,7 milhões de hectares entre pasto nativos e formados e um rebanho bovino de aproximadamente 2,7 milhões de animais.
Nos estudos observou-se uma diminuição drástica da capacidade de suporte dessas pastagens, redução média de 60% em relação ao que se esperava para o período. O comprometimento da oferta de pasto para o gado traz como consequência diminuição na produção de carne e leite na região. Não foi observado mortalidade de animais devido à seca, todavia, observa-se emagrecimento do rebanho de corte, especialmente nas propriedades que não se prepararam para o convívio com a seca. Outro fator que impactou profundamente a pecuária regional foi a queda no preço do gado. A cotação da arroba do boi gordo caiu em média 25%, e por sua vez a produção de leite reduziu em média 28,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Quanto as perdas pecuárias que envolve redução de produção de carne bovina, leite e derivados, segundo os levantamentos apurados e depoimento dos produtores, os prejuízos são estimados em R$ 770,5 milhões. Somado a isso observa-se elevada degradação das pastagens com acentuada redução da capacidade de suporte com perda de receita estimada em R$ 692,2 milhões. O impacto financeiro por conta da seca no Norte de Minas apenas nestes segmentos da economia rural tem projeção estimada em R$ 1 bilhão 823 milhões e 700 mil. Outra questão preocupante é a baixa procura pelo gado na região, o qual tem sofrido significativa depreciação no valor de mercado a base da cadeia produtiva, assim como a baixa remuneração do preço do leite pago ao produtor, cujos valores atuais mal cobrem os custos de produção.