“Quando me vi adoecido, com depressão e síndrome de pânico, procurei ajuda dentro da instituição, mas me vi só”. O desabafo é do perito criminal da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), Erick Souto Guimarães, atualmente em licença para cuidar da saúde mental. O problema denunciado pelo policial não é um caso isolado. Pelo contrário, cada vez mais adoecimentos dentro da segurança pública deixam de ser ocultos.
Esta semana, uma negociação de mais de 30 horas tirou a delegada Monah Zein, de 38 anos, sedada de casa sob cobertura ao vivo da imprensa. Os gritos de socorro denunciam a escassez de profissionais capacitados para acolhimento da corporação: a média é de um psicólogo para cada mil servidores e um psiquiatra para cada 3.666 profissionais para atender todo o Estado. Todos eles lotados no Hospital da Polícia Civil (HPC), em Belo Horizonte.
Os dados foram informados pela PC aos deputados mineiros em plenário. Segundo o delegado Saulo Castro, porta-voz da instituição, 11 psicólogos e três psiquiatras do HPC precisam dar conta das demandas de mais de 11 mil servidores em todo o Estado. Além dos agentes, os profissionais também atendem aposentados e dependentes dos policiais – só de dependentes, são mais de 5 mil.
O relato foi dado pelo servidor em audiência pública ocorrida há cerca de um mês na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Ele contou ainda que a escassez de profissionais em saúde mental forçou o desvio de três policiais – formados em psicologia – para ocuparem a função de psicólogos.
A falta de acolhimento tem como resultado o adoecimento interno e o acúmulo de licenças e desligamentos, segundo o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol/MG), Wemerson Oliveira. A delegada Monah Zein, que atua em Belo Horizonte, é uma das que foi afastada por questões médicas, de acordo com o porta-voz da PCMG.
O QUE DIZ A PCMG? – “A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) inaugurou oficialmente, no dia 10/11, a sede do Centro Biopsicossocial. A unidade, que integra a estrutura do Hospital da instituição, está sediada na Avenida Barbacena, 473, bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul de Belo Horizonte, e reúne serviços de atenção integral à saúde, voltados ao bem-estar físico, mental e social dos servidores e de seus dependentes.
Cumpre salientar que, a PCMG realizou, durante o ano, campanhas como o Janeiro Branco e o Setembro Amarelo desenvolvidas com especial enfoque na prevenção ao suicídio e à promoção de condições psicológicas mais saudáveis a todos os servidores.
Também por meio do Hospital da Polícia Civil, a instituição presta atendimento psicológico clínico, em sessões presenciais e também por teleconsulta, para servidores da ativa, aposentados e dependentes, da capital e do interior. A unidade dispõe, ainda, de plantão psicológico, com escuta especializada, sem necessidade de agendamento. Os interessados podem entrar em contato pelo WhatsApp (31) 99807-9670.
A PCMG acompanha de perto os dados sobre saúde mental e eventuais casos de suicídio e outros crimes violentos registrados por meio da Diretoria de Saúde Ocupacional. Contudo, dados estatísticos sobre o tema não são objeto de divulgação, com o intuito de preservar a família das vítimas, garantir o direito à privacidade, evitar alarmismos e análises descontextualizadas sobre casos individuais que possuem motivações multifatoriais.” A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) também foi procurada, mas não respondeu.