A PRF aplicou 3.911.780 multas de trânsito no Brasil entre janeiro e julho deste ano, um aumento de 59% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 2.456.752 infrações. Minas Gerais também seguiu a tendência, onde a corporação aponta um crescimento de 19% nas multas, saltando de 293.012 para 342.999 somente no primeiro semestre.
“O aumento das infrações mostra que o motorista brasileiro está mais imprudente, agressivo e violento. E isso reflete no número de mortos e sinistros. Em 2024, houve um aumento de 9% no número de mortos (2.908) e de 8% no número de feridos (40.518)”, comenta Alysson Coimbra, médico especialista em Tráfego e diretor científico da Ammetra. O perfil das infrações indica altos níveis de imprudência e agressividade nos condutores. A velocidade excessiva e o não uso do cinto de segurança são recorrentes, e colocam a segurança de todos no trânsito em risco.
RANKING DAS INFRAÇÕES – Entre as infrações mais cometidas pelos motoristas, transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20% é, de longe, a líder do ranking, representando 40,2% do total em Minas. Foram 138.057 autuações entre janeiro e julho. Em segundo lugar vem o excesso de velocidade entre 20% até 50% acima do permitido, com 25.845 infrações, o que corresponde a 7,5%. Ultrapassagens pela contramão somam 14.001 ocorrências e aparecem em terceiro lugar, com 4%.
“Quando a gente faz a análise das três principais causas das infrações, nós percebemos claramente o papel do comportamento imprudente, as pessoas estão desconsiderando o risco. Quanto maior a velocidade aplicada aos veículos, maior a gravidade de ferimentos. Além disso, ultrapassar em local proibido na maioria das vezes resulta na colisão mais mortal do trânsito: a colisão frontal com morte instantânea”, afirma Alysson Coimbra, médico especialista em Tráfego e diretor científico da Ammetra.
Não menos importante, “motoristas sem cinto de segurança” está em quarto lugar no ranking das infrações, com 13.766 autuações, seguido de condução de veículo sem licença (12.030) e veículo em mau estado de conservação (9.222).
“O aumento dessas infrações é preocupante, pois indica uma falta de conscientização sobre a importância do cinto de segurança, uma informação que acreditávamos que já estava fixada na vida dos brasileiros, porém os números revelam o contrário. Isso coloca em risco a vida dos motoristas e passageiros”, destaca Coimbra.
Ainda segundo o especialista, o cenário atual ainda mostra resquícios do período da pandemia de COVID-19, que contribuiu para uma mudança do perfil biopsicossocial da população. Isso também estaria relacionado aos impactos de um mundo cada vez mais globalizado, repleto de informações e medos. “Houve a acentuação de casos relacionados a motoristas ansiosos, depressivos e agressivos”, declara.
ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL – A fim de modificar o cenário, Coimbra avalia que o atual Sistema Nacional de Trânsito precisa passar por uma atualização. Para ele, é necessário a reavaliação de todas as políticas de flexibilização que foram concedidas nos últimos cinco anos e a aplicação de uma abordagem multifatorial que inclua educação, fiscalização, leis mais rigorosas e políticas públicas eficazes.
“Em muitos casos os motoristas estão totalmente desconectados com o meio no qual estão dirigindo, demonstrando falta de empatia com os demais integrantes e não dão valor para nosso bem mais precioso, que é a vida. Nesse contexto, a gente precisa entender que já chegamos no limite de indução de mudança de comportamento por multas e por campanhas”, declara o médico.
Segundo o especialista, controladores de velocidade, como radares e quebra-molas, representam uma redução de 90% das ocorrências nos locais onde são instalados. Mas estes se configuram como um mecanismo adicional de proteção no trânsito.
Coimbra defende a ampliação do efetivo da Polícia Rodoviária, o investimento no apoio à saúde mental da população, além da realização de exames psicológicos no momento de renovação da CNH, assim como é feito o exame médico periódico. Atualmente a avaliação psicológica é feita somente no início do processo de obtenção da habilitação. “Enquanto nós não mudarmos as nossas políticas públicas, com intensificação da fiscalização e amparo da saúde psicológica, nós não conseguiremos reduzir essas estatísticas”, conclui.