Não há nenhuma dúvida de que o pequi é remédio e alimento. A frase faz parte de uma letra do compositor, repentista já falecido Téo Aze- vedo, que fez sucesso pelo país afora.
O fruto já é encontrado desde novembro e há bancas espalhadas em vários pontos estratégicos da cidade, com as pretinhas jabuticabas, no Mercado Central, nas feiras livres, sacolões e área central de Montes Claros, nas Praças Dr. Carlos, Coronel Ribeiro e Ruas Simeão Ribeiro (Quarteirão do Povo), Praça da Matriz – perto dos Correios, Socomil e Mercado Sul, no Bairro Morrinhos.
O fruto amarelado é polêmico. Há quem ame, e outros que odeiam. Mas, uma coisa é fato: o pequi, considerado por muitos como o “ouro do Cerrado” e afrodisíaco, sendo um símbolo gastronômico e cultural do Norte de Minas e nas saídas da BR-135, saída de Montes Claros – Januária e 365, Moc – Pirapora.
Além disso, gera renda extra para milhares de famílias e movimenta altas quantias por ano. De acordo com a Prefeitura de Montes Claros, só em 2024 a região produziu 170 mil toneladas do fruto e movimentou cerca de R$ 250 milhões.
De acordo com Glenn Andrade, secretário de Aceleração Econômica de Montes Claros, como não há “plantações de pequi”, o fruto geralmente é colhido livremente pela população em regiões de mata nativa. Segundo ele, cerca de 30 mil famílias de agricultores participam direta- mente da economia do pequi e as principais cidades produtoras são Montes Claros, Mirabela, Japonvar, Ubaí e Campo Azul, Coração de Je- sus e região de Montes Claros.
“O período da safra, que vai de novembro a fevereiro, é um momento de alegria no cerrado mineiro. As famílias contam muito com essa ren- da extra no fim de ano. Muitos vendem para atravessadores, que revendem para outras cidades, enquanto outros comercializam diretamente nas estradas para não perder parte do lucro”, explica.
Segundo ele, 70% da comercialização do pequi colhido no Norte de Minas acontece em Montes Claros, onde também é realizado grande percentual de seu beneficiamento.
Além de regiões de mata nativa, muitos coletores também contam com a colaboração de fazendeiros locais, geralmente pecuaristas, que permitem a entrada em suas fazendas para a retirada dos frutos. “A derrubada das árvores é proibida por lei. Então, é comum ver grandes pastagens com vários pés de pequis”, destaca.
Neste ano, o presidente Lula sancionou a lei pró-pequi para o manejo, plantio, extração, consumo, comercialização e transformação do pequi e outros frutos do Cerrado. Entre as medidas previstas na legislação, está a proibição da derrubada e do uso predatório de pequizeiros, exceto quando autorizada por órgão competente.
O Arranjo Produtivo Local (APL) do Pequi e Frutos do Cerrado, mapeado pelo Projeto Sabores do Gerais em parceria com o Sebrae, reúne 38 empreendimentos distribuídos em 30 municípios do Norte de Minas.
São agroindústrias, cooperativas e associações que processam uma ampla variedade de produtos — de polpas e óleos a doces e cosméticos naturais derivados dos frutos do Cerrado.
Entre os exemplos mais expressivos está a Cooperativa Grande Sertão, sediada em Montes Claros, referência nacional e internacional. Em 2024, ela processou cerca de 632 toneladas de pequi in natura, provenientes de 13 municípios do APL. O vo- lume gerou R$ 253 mil distribuídos entre os cooperados, resultando em produtos como pequi congelado, polpa, óleo e farofa, com valor agregado de cerca de R$ 2,5 milhões.
Além de gerar renda extra para coletores e fomentar negócios para cooperativas, o “ouro do Cerrado” também ajuda a movimentar a economia sendo o protagonista da tradicional Festa Nacional do Pequi, que chegou à 32ª edição neste ano – de 7 a 9 de novembro deste ano. Realizada em Montes Claros, a festa foi gratuita e contou com diversas atrações musicais e gastronômicas.
O secretário de meio ambiente, bem-estar animal e sustentabilidade, Fabiano Oliveira ressalta a festa como uma celebração do fruto mais amado do Norte de Minas. “Preservar essas riquezas, como o pequizeiro, é essencial. Representa cuidar da nossa história, manter viva a tradição e fortalecer o vínculo entre a natureza e a culinária que nos identifica como povo”, diz.