O estado de Minas Gerais enfrenta um dos períodos mais críticos de sua história recente no que diz respeito aos desastres climáticos, um cenário preocupante que evidencia a vulnerabilidade da região diante das mudanças ambientais. Nesta quinta-feira (4), o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu oficialmente a situação de emergência em mais de 120 municípios mineiros, afetados principalmente pela severa seca, contudo, algumas localidades também sofreram com chuvas intensas que provocaram enchentes e outros danos localizados. As portarias que formalizam esse reconhecimento foram publicadas no Diário Oficial da União e autorizam as prefeituras a solicitar apoio financeiro federal para ações de resposta imediata, abrindo caminho para um socorro imprescindível.
As regiões do Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e Mucuri concentram a maior parte das cidades afetadas por essa grave crise climática. Municípios como Montes Claros, Salinas, Januária, Bocaiuva, Pirapora, Taiobeiras, Águas Vermelhas, Pedra Azul, Jequitaí, Itamarandiba, Chapada Gaúcha, Mirabela, Montalvânia, Jaíba e Bonito de Minas enfrentam longos períodos consecutivos sem chuvas, o que ocasiona baixa reserva hídrica e impactos diretos na agricultura familiar, no abastecimento urbano e na criação de animais. A seca, que figura nos laudos técnicos como COBRADE 1.4.1.2.0, caracteriza-se por estiagem prolongada com prejuízos materiais significativos, afetando sobretudo as comunidades rurais e as economias locais dependentes do ciclo das águas.
De acordo com as portarias nº 3.572 e nº 3.567 do MIDR, o agravamento dessa crise é resultado de uma combinação de fatores climáticos adversos: temperaturas elevadas combinadas a uma redução drástica das chuvas desde o fim do inverno. Em contrapartida, municípios como Novo Cruzeiro e Manga enfrentam uma realidade diferente dentro do mesmo estado, pois foram atingidos por chuvas intensas e repentinas que causaram danos estruturais, incluindo a destruição de estradas vicinais, pontes e outras infraestruturas públicas essenciais, o que levou à decretação emergencial também nessas localidades.
Com o reconhecimento federal, os municípios afetados já es- tão habilitados a solicitar recursos via sistema digital chamado Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Estes recursos podem ser usados para ações emergenciais imprescindíveis, tais como a compra de cestas básicas, água mineral, kits de higiene e dormitório, além da contratação de serviços para desobstrução de vias, limpeza urbana e o restabelecimento do abastecimento de água. Em casos mais graves, o apoio federal permite ainda a reconstrução de pontes, contenções, bueiros e até moradias que foram destruídas ou ficaram inaproveitáveis devido aos desastres.
O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ressaltou a urgência e a gravidade da situação ao afirmar que os efeitos dessas emergências são visíveis e demandam uma resposta rápida e eficaz. Ele destacou que “os recursos da Defesa Civil são essenciais nas primeiras horas após o desastre, pois garantem assistência humanitária imediata e o restabelecimento dos serviços essenciais. Além disso, permitem iniciar logo os processos de reconstrução quando os danos estruturais são consideráveis”. O pronunciamento reforça a importância do papel do governo federal em apoiar os estados em momentos de crise.
A predominância de municípios mineiros nas portarias de emergência reflete a enorme dimensão do problema enfrentado pelo estado. A estiagem prolongada e severa tem provocado perdas significativas nas lavouras, gerando dificuldades no abasteci- mento rural, queda expressiva na produção leiteira, principal fonte de renda para muitas famílias, e uma dependência crescente das operações realizadas por carros- -pipa para levar água às regiões mais afetadas. Essa realidade se agrava devido à fragilidade da infraestrutura hídrica local, que não consegue absorver nem mitigar os impactos negativos das variações climáticas extremas.
Especialistas em clima e meio ambiente alertam que esse tipo de evento extremo não é casual e vem se intensificando nos últimos anos, exigindo ações de planejamento hídrico mais robustas e investimentos contínuos em infraestrutura adequada para convivência com a seca. Municípios de pequeno porte, especialmente os situados no semiárido mineiro, figuram como os mais vulneráveis às mudanças climáticas, enfrentando dificuldades ainda maiores para garantir o abastecimento de água e manter suas atividades econômicas básicas.
Com a publicação das portarias que reconhecem a emergência, a expectativa dos gestores municipais é acelerar o envio dos planos de trabalho para acesso rápido aos recursos emergenciais. O MIDR, inclusive, enfatiza que agentes municipais podem participar de capacitações gratuitas a distância para aprimorar o uso do sistema S2iD, o que facilita e agiliza os processos burocráticos e a execução das medidas necessárias. Essa formação técnica tem papel fundamental para que o auxílio chegue à população de forma mais célere e eficiente, minimizando os impactos sociais da crise.
Diante dessa conjuntura, Minas Gerais mais uma vez aparece como um dos focos do mapa nacional de desastres climáticos, exigindo esforços coordenados entre os governos municipal, estadual e federal. A agilidade desses entes é essencial não só para reduzir os danos imediatos, mas também para preparar o estado para eventos futuros, adotando medidas preventivas e estruturais que garantam a sustentabilidade socioambiental da região e a segurança de sua população diante das mudanças climáticas cada vez mais evidentes e severas
A crise atual impõe uma reflexão profunda sobre a necessidade de políticas públicas integradas, que envolvam desde o manejo inteligente dos recursos naturais até o fortalecimento da agricultura familiar e mecanismos de proteção social para os mais vulneráveis. Minas Gerais, com sua diversidade geográfica e demográfica, demanda soluções específicas que considerem as peculiaridades locais, buscando equilíbrio entre desenvolvimento e resiliência ambiental. Essa conjuntura destaca a importância do diálogo entre cientistas, gestores públicos, organizações da sociedade civil e as comunidades para construir um futuro mais seguro e adaptado às ameaças climáticas que se intensificam.