Mais da metade (52,3%) dos casos de mortes violentas em Minas não são resolvidos. No primeiro semestre de 2023, foram registrados 1.434 homicídios, sendo que 671 foram elucidados, com taxa de eficiência de 47,7%, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp- -MG). Para servidores da Polícia Civil, a não elucidação dos casos se deve, principalmente, a dois fatores: falta de pessoal e pouco investimento.
Um investigador contou em anonimato que a escassez de pessoal é realidade da delegacia onde atua. Por mês, chegam até eles de 25 a 30 assassinatos. Cada equipe de investigação é composta de três investigadores.
“Como você coloca uma equipe de três pessoas para investigar dez homicídios? É pouca gente. O crime de homicídio precisa ser investigado no momento. Depois de cinco dias, as testemunhas já não querem se envolver. Às vezes, o investigador consegue autorização para analisar um celular e, em uma semana, ele não consegue ver tudo. Os casos ‘pequenos’ vão ficando de lado e a prioridade é dada àqueles que têm repercussão”, diz.
Wemerson Oliveira, presidente do Sindicato da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol), lembra que, em 2008, um estudo indicou a necessidade de 17,5 mil policiais pra suprir a demanda do Estado. Conforme a PC são 11,3 mil servidores ativos divididos em várias funções – um déficit de 35%. Segundo Oliveira, desse total, apenas 6.000 são investigadores. “Temos mil policiais aptos a se aposentarem, e o governo abriu um concurso com poucas vagas”.
SEM RESPOSTAS – As perguntas sem respostas de pessoas que perderam alguém assassinado tornam o processo do luto ainda mais complexo. A análise é da psicóloga Mirian Anjos, especialista em terapia cognitivo-comportamental e psicopatologia.
“Quando a família não sabe quem foi o responsável, além da dor da perda, que é natural, eles têm que lidar também com essa incerteza constante, com a falta de respostas. Isso cria um sofrimento adicional a este luto. É como se eles ficassem presos em uma busca por respostas que não vêm, e isso torna o processo do luto muito mais complexo e longo”, explica.