Encontrar soluções para falhas de qualidade e engenharia de dados biológicos e biomédicos rendeu à pesquisadora egressa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Joicymara Xavier, o Prêmio CAPES de Tese na área de Ciências Biológicas I. A pesquisadora analisou dois problemas de diferentes áreas da Bioinformática, concentrando-se nos desafios inerentes às bases de dados utilizadas, como curadoria, interoperabilidade, questões proprietárias e de manutenção da integridade dos dados.
Com a tese intitulada ThermoMutDB e SARS-CoV-2 Africa Dashboard: abordagens de ciência de dados para integração, análise e vigilância de dados biológicos, Joyce conduziu sua pesquisa principalmente a partir da visão do movimento Data-Centric AI no que tange ao desenvolvimento de ferramentas e modelos. O conceito data-centric preconiza a criação de sistemas de inteligência artificial usando a menor quantidade possível de dados, de boa qualidade.
O primeiro objeto de estudo envolvia Bioinformática Estrutural. A partir da necessidade de se desenvolver um modelo de predição de estabilidade em proteínas, Joicymara identificou que a base de dados continha erros, estava despadronizada e não era atualizada. Realizando a curadoria e a atualização desses dados, obteve o primeiro produto da tese, a base de dados termodinâmicos ThermoMutDB1. A fim de garantir a continuidade, “o projeto adotou o conceito de crowdsourcing, um modelo aberto e compartilhado, para receber a contribuição da comunidade”, explica a pesquisadora.
Já o segundo estudo, na área de vigilância genômica da Covid-19 no continente africano, tinha como problema a necessidade de que dados de monitoramento chegassem a diferentes tipos de público: os dados dos genomas sequenciados eram depositados em uma base semipública, mas não chegavam às pessoas. Como solução, Joicymara desenvolveu um painel interativo, o SARS-CoV-2 Africa Dashboard, contendo informações, métricas e indicadores de fácil visualização e utilização. Além disso, criou um modelo de programação pré-pronto, ou framework, chamado GenomicDash, com o objetivo de servir de base para desenvolvimentos de novos painéis.
Orientada pelo professor Douglas Eduardo Valente Pires, Joicymara considera relevante a mudança do paradigma de desenvolvimento dentro da bioinformática para a entrega contínua. “Ao contribuir para facilitar o acesso a dados complexos de forma intuitiva, segura e confiável, os modelos desenvolvidos se tornam “valiosos recursos para pesquisadores e profissionais de saúde”, finaliza.
Diretora do Centro de Educação à Distância (CEAD), Christine Martins de Matos falou sobre a ex-aluna. “Na condição de egressa do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação, Joicymara, destacou-se pela dedicação, trabalho em equipe, comunicação, paixão e excelência em suas atividades acadêmicas, conciliando concomitantemente com sua atividade de Analista de Sistemas e Desenvolvedora Web na Diretoria de Tecnologia da Informação da Unimontes”.
“A concessão do Prêmio de Teses da CAPES é um testemunho do mérito excepcional de sua pesquisa e do impacto que ela teve no campo, iniciado nas práticas e soluções tecnológicas próprios de um egresso do curso de Sistemas de Informação, conciliados com as ferramentas e métodos adequados para lidar com o quantitativo de dados gerados”, destacou a diretora.
SOBRE A VENCEDORA
Joicymara Santos Xavier é graduada em Sistemas de Informação pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e fez mestrado em Ciência da Computação na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). No doutorado, interessou-se por unir as áreas da Computação e da Inteligência Artificial com saúde pública, cursando Bioinformática na UFMG.
Bolsista do Programa Institucional de Internacionalização da CAPES (PrInt) para doutorado-sanduíche, desenvolveu parte de suas pesquisas na Stellenbosch University, na África do Sul, e teve a oportunidade e colaborar com o Center of Epidemic Response and Inovation (CERI), vinculado à instituição sul-africana. Também colaborou com a Fiocruz-MG no Brasil, com a University of Melbourne e com o Baker Heart and Diabetes Institute, ambos na Austrália.
O PRÊMIO
Considerado o Oscar da ciência brasileira, o Prêmio CAPES de Tese recebeu, neste ano, inscrições de 1.469 trabalhos, o maior número em 18 edições já realizadas. São reconhecidas as melhores teses de doutorado defendidas em programas de pós-graduação brasileiros. De todos premiados, nas 49 áreas do conhecimento, três irão receber o Grande Prêmio CAPES de Tese, nos colégios de Humanidades, de Ciências da Vida e de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinares. A solenidade de entrega das premiações ocorrerá em dezembro. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).