Os desenhos de Charles Ribeiro Aguiar (o Charles Guerreiro) parecem verdadeiros retratos em preto e branco. Quem vê as mãos dele dando vida a desenhos tão realistas, que mais se parecem fotografias, não imagina que elas se revezam diariamente entre o lápis e a borracha de esfregar.
Ao passar pela Rua Simeão Ribeiro (Quarteirão Fechado do Povo), o jovem fotógrafo de São Francisco, Luiz Henrique Durães Alves ficou impressionado com o trabalho e resolveu registrar as imagens do trabalho de Charles Guerreiro para o estúdio em sua terra natal, no Norte de Minas. Ele se submeteu a uma cirurgia em Montes Claros e voltou para a cidade ribeirinha, acompanhado de sua mãe, na semana passada.
Nascido no Bairro Major Prates há mais de 40 anos em Montes Claros, o desenhista possui 32 anos de profissão respira arte a fatura mais de um salário mínimo por mês, além de fazer tatuagens em um estúdio na área central da cidade. Ele trabalhava há 25 anos perto da Praça da Matriz e agora decidiu voltar para o Calçadão do antigo Bar e Restaurante Cristal e Café Galo, ponto de encontro de personagens políticas, jornalistas, artistas, jogadores, ex-atletas e lendas vivas do futebol regional, entre outras figuras sociais.
“Muitas pessoas estão recordando o meu trabalho como os comerciantes daqui, personalidades políticas, jornalistas que frequentam o antigo e popular Café Galo e isso é muito bom para mim após o período de pandemia da covid-19, que ficou parado demais”, lembra.
Ele conta que começou a desenhar ainda na escola. Inspirado, mesmo sem incentivo, com poucos recursos morou uma temporada no Rio de Janeiro e viajou para a Bolívia, Colômbia, entre outros países vizinhos do Brasil.
Charles Ribeiro é calmo no desenho, dedica e, acima de tudo, tem muita paciência. É um excelente desenhista, afirma a auxiliar de docência de um Cemei do município, Clarice Couto, que mora no Bairro Santo Amaro – região do Grande Maracanã.
O talento, como Charles Guerreiro mesmo descreve ao NOVO JORNAL DE NOTÍCIAS, está no sangue. Ele desenha em um dos bancos de madeira, no Quarteirão do Povo, centro da cidade. Além disso, expõe seus trabalhos ali mesmo, onde o artista se vira como pode para achar uma posição confortável e viável para fazer as obras.
O portfólio do montes-clarense inclui desde retratos de famosos. Por ser bastante querido pelos tatuadores e fãs do rap e suas apresentações são sempre vistas em locais públicos e bairros da periferia da cidade, conta.
O material de criação não fica parado em casa. Para concluir os retratos, que chegam a levar cerca de dois dias para ficar prontos, Charles Ribeiro aproveita os momentos livres na limpeza para se debruçar sobre o papel e agora ganhou da uma comerciante, materiais para auxiliar em seus trabalhos e sempre recebe várias encomendas dos clientes, inclusive também de tatoo em vários cantos da cidade.
Para desenhar no realismo, é preciso muita paciência. Às vezes, a gente fica querendo ver o resultado imediato e ele não sai como esperado. Mas, quando consegue um pouco de calma, o trabalho evolui e se adapta, declara à reportagem do NJN.
A rotina do artista não é fácil. Ele acorda cedo e vai para o trabalho a pé ou de lotação. O humor, aliás, é facilmente notado por quem conversa com Charles Guerreiro, no Quarteirão do Povo. Outra característica que não passa despercebida é a humildade, resumem o comerciante Gilberto Silva e aposentado Antônio Gonçalves Oliveira, que trabalha e frequentam o Quarteirão do Povo.