O aproveitamento das potencialidades regionais no desenvolvimento da pesquisa e inovação pode ser um caminho para reduzir desigualdades e garantir a sustentabilidade. Mas ainda há obstáculos nesse trajeto, conforme destacaram especialistas e autoridades durante o encontro regional do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência – Por um Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável, realizado em Montes Claros nessa segunda-feira.
Organizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o evento, em parceria com dezenas de instituições, está percorrendo o Estado e colhendo contribuições para elaborar o Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. Além do encontro em Montes Claros, realizado na Unimontes, o fórum passou por Diamantina e também será levado à Viçosa, Lavras, Belo Horizonte, Ipatinga e Uberlândia.
No caso do Norte e Noroeste, o doutor em Fisiologia e Farmacologia Sérgio Henrique Sousa Santos destacou a riqueza do Cerrado, segundo ele uma das savanas mais diversas do mundo, com plantas e frutos ricos em nutrientes, mas sem distribuição como produtos. “Faltam conhecimento, incentivo à pesquisa e apoio aos produtores”, afirmou. Ele citou como exemplo os benefícios das plantas conhecidas por Unha D’Anta e Lixeirinha na reversão de alterações metabólicas que levam à obesidade e ao diabetes.
Mas o foco do professor do curso de Engenharia de Alimentos da UFMG e do Programa de Pós- -Graduação em Ciências da Saúde da Unimontes foi o buriti, outro fruto do Cerrado, considerado um superalimento. Na tentativa de fazer Projeto visa combate à crise hídrica com a recuperação de veredas através de barragens subterrâneas Fórum pela Ciência no Norte e Noroeste de Minas destaca riqueza pouco explorada da região e os desafios para reverter esse cenário a pesquisa chegar à sociedade, ele fundou uma empresa para comercializar os suplementos, mas enfrenta a concorrência desigual com grandes marcas, diante da falta de recursos para divulgação e marketing. “Também nos falta um parque tecnológico na região”, acrescentou.
Outra palestrante do encontro, a professora Sara Gonçalves Antunes de Souza, doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia e coordenadora de Inovação Tecnológica da Unimontes, enfatizou que a inovação precisa ter conexões com múltiplos participantes e chegar à sociedade, embora não necessariamente ao mercado privado. “Podemos inovar e fazer uma mudança para reduzir a fila do SUS”, exemplificou. Mas citou também a transferência de tecnologia da Unimontes para uma empresa produzir combustível a partir da macaúba. Sara Souza falou sobre o crescimento da participação das universidades no campo das patentes, em função de exigências da Lei Federal 13.243, de 2016. Por outro lado, citou estudos que abarcam a América Latina e mostram as universidades isoladas com seus estudos, e as empresas, inativas. Em 2023, dos 20 maiores depositantes de patente de invenção, somente quatro são empresas e há um instituto de ciência e tecnologia (ICT) privado. Todos os demais são ICTs públicos.
Os dois professores defenderam uma maior presença de cientistas nas empresas, de forma a reverter esse cenário. “Minas Gerais exporta o seu solo, e isso só muda com a inovação”, pontuou Sara Souza, salientando que, no caso de Montes Claros, 80% das exportações são de medicamentos embalados.
AVANÇOS – Na mesa de abertura do encontro, autoridades e parlamentares cobraram mais recursos para pesquisa e inovação, mas também apresentaram ações que representam avanços na área e que são, justamente, fruto da conexão entre instituições e universidades. É o caso do banco de material genético de pessoas desaparecidas, em desenvolvimento pela Polícia Civil, ou a implantação de energia fotovoltaica em poços artesianos, capitaneada pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene).
O promotor de Justiça Franklin Mendes citou pesquisas feitas com recursos de termos de ajustamento de conduta, uma delas sobre o Rio São Francisco e outra sobre as plantas medicinais do Rio Pandeiros – ambas em parceria com instituições de pesquisa. Já Cristiana de Brito, secretária da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), propôs uma reflexão sobre como uma política pública pode fomentar especificidades da região, como a produção de cachaça, frutas e energia fotovoltaica.