“Doenças transmissíveis não respeitam fronteiras. Isso se deve a vários fatores, entre eles o impacto do envelhecimento populacional e às viagens rápidas de um lugar para outro. Isso influencia na determinação social da saúde. Por isso, as emergências em saúde pública se tornam cada vez mais frequentes e complexas, em virtude dos impactos causados pelas mudanças climáticas e a globalização da saúde pública”.
Essas foram algumas das observações destacadas pelo doutor em epidemiologia, Wanderson de Oliveira, durante o 1º Webnário Preparação e Resposta às Emergências em Saúde Pública, na quinta-feira (23/5), pela Regional Montes Claros do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). A iniciativa contou com a participação de referências técnicas da rede Cievs de várias cidades de Minas Gerais e de Estados como Santa Catarina, Pará, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Bahia.
“Pelo fato de ter sido o primeiro webnário promovido pelo Cievs Regional de Montes Claros, a participação de profissionais de várias regiões do país coloca em evidência a importância que a preparação e resposta às emergências em saúde pública têm chamado a atenção dos mais diversos segmentos. Sobretudo agora, com as enchentes no Rio Grande do Sul, afetando milhares de pessoas e trazendo vários riscos à saúde, a tendência é que a preparação para o enfrentamento às emergências ganhe cada vez mais espaço de discussão país, envolvendo não só o poder público mas, também outros segmentos institucionais e da sociedade civil”, ressalta Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora do Cievs Regional de Montes Claros.
Na abertura, a superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, destacou que a instalação do Cievs no Norte de Minas é um importante ganho para o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica e de saúde, contribuindo para o reforço do trabalho dos municípios, bem como para a rede nacional do Cievs”.
Secretária de Saúde de Montes Claros e presidente regional do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), Dulce Pimenta reforçou a importância do envolvimento dos gestores municipais na elaboração de um plano regional de enfrentamento às emergências em saúde.
“Estamos numa região onde já vivenciamos a ocorrência de enchentes e longos períodos de seca. As experiências deixam evidentes a importância dos municípios estarem preparados e estruturados para dar resposta em tempo hábil às necessidades da população, diante de situações adversas”, pontuou a secretária.
Wanderson de Oliveira, que durante a pandemia de covid-19 era secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, reforçou a importância dos municípios terem definidos os seus planos de emergência, bem como a organização de ações em nível regional. “Cada município e região devem se preparar para aquilo que já se conhece: surtos de doenças, desastres naturais, entre eles enchentes e estiagens. Isso porque a desorganização das ações sobrecarrega os serviços e a resposta rápida diante de situações de emergência é fundamental para reduzir os impactos”, alertou o epidemiologista.
Outro aspecto destacado por Wanderson de Oliveira é a necessidade de integração de ações entre os serviços municipais e estaduais com a vigilância nacional epidemiológica e de saúde. “A capacitação dos profissionais que atuam na atenção primária e nos núcleos de vigilância epidemiológica hospitalares é fundamental para a comunicação eficaz e rápida das doenças de notificação obrigatória. Esse trabalho amplia a capacidade dos municípios, Estados e do Ministério da Saúde para a detecção, em tempo oportuno, de situações que têm
potencial de colocar em risco a saúde de um grande número de pessoas, seja numa determinada região, num Estado, no país ou até mesmo em nível mundial”, disse.
“A preparação para as emergências geralmente se concentra nas capacidades institucionais, com a divisão de tarefas e responsabilidades. A relação estreita entre a Rede Cievs com os serviços de notificação é importante para que, num prazo máximo de sete dias, seja detectado algum problema que traga risco à saúde da população e, a partir daí, além da notificação dos casos, seja definido um plano de ação estruturado”, destacou Wanderson de Oliveira.
O Cievs foi instalado na Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros em agosto de 2023. A iniciativa envolve a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Tem como objetivo fortalecer a capacidade do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde para identificar precoce e oportunamente emergências em saúde, a fim de organizar a adoção de respostas adequadas que reduzam e contenham o risco à saúde da população.