Com o atendimento de 209 pacientes e sete casos confirmados de hanseníase, a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e o Ministério da Saúde (MS) encerraram sexta-feira (24), a execução do Projeto Roda-Hans no município de Janaúba, integrante da área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS). Na semana, as atividades que são de iniciativa da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Fundação Novartis, estão acontecendo no município norte-mineiro de Januária. As próximas etapas do Projeto em Minas Gerais acontecem em Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha (3 a 7 de junho) e em Teófilo Otoni (10 a 14 de junho).
MICRORREGIÃO
“O grande número de pessoas atendidas por médicos especialistas e a detecção de sete casos confirmados de hanseníase evidencia o quanto foi importante a implementação do Projeto Roda-Hans em Janaúba. Além do atendimento de pacientes, a capacitação teórica e prática de profissionais que trabalham em serviços de atenção primária à saúde, de 15 municípios que integram a microrregião de Janaúba/Monte Azul, reforça a importância do trabalho de diagnóstico precoce de casos da doença e o acompanhamento dos pacientes durante o tratamento.
Isso é apenas o início dos desdobramentos no cenário epidemiológico que a ação desencadeia. Certamente muitos outros casos serão diagnosticados pelos serviços de atenção primária à saúde”, prevê a referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS de Montes Claros, Siderllany Aparecida Vieira Mendes.
Dos sete casos diagnosticados de hanseníase, seis foram classificados como tendo a forma clínica multibacilar dimorfa. Esta é a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). Ocorre, normalmente, após um longo período de incubação (cerca de dez anos ou mais), devido à lenta multiplicação do bacilo, que ocorre a cada 14 dias, em média.
Um diagnóstico foi classificado na forma clínica paucibacilar indeterminada. Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença, entretanto ela pode ser ou não perceptível. Geralmente afeta crianças abaixo de dez anos de idade ou, mais raramente, adolescentes e adultos que foram contatos de pacientes com hanseníase.
“Logo após o diagnóstico dos sete casos positivos para hanseníase, detectados em Janaúba, os pacientes iniciaram o tratamento”, assegura Siderllany Mendes.
Com os resultados obtidos em Janaúba, a coordenadora de vigilância em saúde da SRS de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes avalia que “ficou confirmada a importância do Projeto Roda-Hans na atualização dos profissionais que trabalham nos serviços de atenção primária à saúde. Temos uma considerável carga de incidência da doença na região e, por isso, investir na capacitação dos profissionais que atuam nos serviços de atenção primária é importante para a intensificação da busca ativa de pacientes, encaminhamento para atendimento nos serviços de atenção primária e especializada e, posteriormente, manter o acompanhamento dos tratamentos”.
“A hanseníase tem cura, mas o trabalho dos profissionais de saúde na vigilância e acompanhamento dos pacientes exige dedicação para evitar a proliferação e a disseminação da bactéria causadora da doença”, pontua a coordenadora.
Em 54 municípios que compõem a área de atuação da SRS de Montes Claros, no período de 2019 a 2023 foram notificados 927 casos de hanseníase. Desse total, 816 casos foram novos, contabilizados em 35 municípios. Com tratamento disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 67% dos pacientes (625) já evoluíram para a cura da doença; 232 pessoas (25%) estão em tratamento e 70 (7,5%) abandonaram o tratamento.
A DOENÇA
A hanseníase é uma das doenças mais antigas que acometem o homem, com referências datadas de 600 anos antes de Cristo. Conhecida antigamente como lepra, é uma doença crônica, transmissível, de notificação e investigação obrigatória em todo o país. A doença tem cura. O tratamento é garantido pelo SUS, com esquemas terapêuticos de seis ou doze meses na maioria dos casos.
A hanseníase possui como agente etiológico o Mycobacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de pessoas e atinge, principalmente, a pele e nervos periféricos.
A doença é transmitida pela tosse ou espirro, por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente, sem tratamento. A doença evolui em aproximadamente 5% das pessoas que tiveram contato com o bacilo.
Os principais sintomas são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração da sensibilidade ao calor ou frio, ao tato e à dor, que podem afetar principalmente as extremidades das mãos e dos pés, rosto, orelhas, pernas, nádegas e o tronco.
Também são sintomas da doença: áreas com diminuição de pelos e suor; dor e sensação de choque; formigamento; fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; inchaço de mãos e pés; caroços no corpo; febre; edemas e dor nas juntas.
No SUS, o tratamento farmacológico da hanseníase é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três fármacos: rifampicina, dapsona e clofazimina.