Numa semana conturbada, com incertezas em torno do arcabouço fiscal e do compromisso do governo no equilíbrio das contas públicas, a Febraban, entidade que representa os bancos, decidiu reafirmar seu apoio ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na manhã de ontem, Haddad se reuniu com os presidentes dos maiores bancos privados do País e destacou seu compromisso com o ajuste fiscal.
Após o encontro, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, ressaltou o compromisso do ministro e disse que o equilíbrio das contas públicas é considerado o único caminho para o País crescer de forma sustentável e com juros mais baixos.
Sidney disse que os banqueiros deixaram a reunião convencidos de que Haddad não só está engajado em buscar o equilíbrio das contas públicas, como mostra uma disposição firme em dialogar, em busca desse objetivo, tanto dentro do governo quanto com o Congresso Nacional.
O presidente da Febraban explicou que o encontro de ontem foi o quarto de uma série de reuniões periódicas realizadas entre banqueiros do setor privado e o ministro da Fazenda desde o ano passado para tratar da conjuntura econômica. Ele disse que a reunião de ontem não foi motivada pelos “últimos acontecimentos”, referindo-se aos questionamentos, que ganharam força ao longo da semana, sobre o compromisso do governo com as regras do arcabouço fiscal.
“Mas nós aqui estivemos também para reafirmar um apoio institucional ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, porque nós enxergamos nele todo o engajamento, uma determinação e uma firmeza na busca do equilíbrio fiscal”, disse Sidney.
Além de Isaac Sidney, participaram da reunião, que aconteceu no gabinete da Fazenda na avenida Paulista, Luiz Trabuco presidente dos conselhos da Febraban e do Bradesco; André Esteves (BTG Pactual); Milton Maluhy (Itaú Unibanco); Marcelo Noronha (Bradesco) e Mário Leão (Santander).
Conforme Sidney, a Febraban se colocou à disposição para contribuir ao debate das medidas necessárias ao equilíbrio das contas públicas. “Essa direção passa por várias medidas que já estão sendo tomadas pelo atual governo e outras medidas que estão sendo discutidas, como a imprensa tem conhecimento”, comentou.
O encontro, assim com o discurso coordenado na quinta-feira pelos integrantes do governo em torno do compromisso fiscal, ajudou a arrefecer a pressão que o dólar vinha sofrendo nos últimos dias. Até o fechamento desta matéria, às 12h35, a moeda americana estava em queda de 0,22%, cotada em R$ 5,35.
Desde a semana passada, o ministro vem enfrentando uma série de reveses, que acabaram respingando no mercado financeiro. Ontem, o dólar já havia registrado um pico de alta após Haddad participar de um evento fechado no banco Santander.
No encontro, o ministro afirmou haver um conjunto de alternativas a serem levadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso de o crescimento das despesas obrigatórias do governo consumir o espaço para as despesas discricionárias (não obrigatórias, como recursos para custeio e investimentos) dentro da regra fiscal. Ele também não se comprometeu de forma explícita a respeitar o crescimento máximo de despesa, mas não disse que alteraria o arcabouço fiscal, um dos temores do mercado.
Em entrevista à imprensa, após a reunião, Haddad reclamou do vazamento de “informações falsas”, negou mudanças no arcabouço e garantiu que, no encontro, havia dito que está disposto a contingenciar gastos.
Os problemas continuaram com a MP do PIS/Cofins, que restringia o uso dos créditos dos dois impostos, editada para compensar o custo da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia e de municípios menores.
A medida, no entanto, foi devolvida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deixando Haddad sem um plano B. Agora o Congresso discute alternativas para compensar as desonerações, atribuição que deveria ser do Ministério da Fazenda.
Ao mesmo tempo, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm feito o mercado questionar sobre o rumo das contas públicas. Na quarta-feira, 12, o presidente afirmou que, para ele, o ajuste fiscal se dá via aumento de receitas e de redução de juros, sem mencionar corte de gastos.
“Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”, disse.
O mercado não recebeu bem a declaração, já que o presidente mencionou a queda da taxa de juros, que não é uma atribuição do Executivo e sim do Banco Central. O comentário gerou mais desconfiança sobre a futura gestão do banco a partir de 2025. Há temor de que o próximo BC tenha uma postura mais frouxa na política monetária, seja tolerante com a inflação e corte juros.
Nesse ambiente, Haddad, a ministra do Planejamento Simone Tebet e o vice-presidente, Geraldo Alckmin coordenaram uma série de discursos pró-ajuste das contas para tentar apaziguar os ânimos do mercado financeiro. Por ora, parecem ter conseguido reduzir a pressão.