O manejo de dejetos bovinos tem se revelado uma nova fonte de renda para pecuaristas no Brasil, conforme demonstrado pela pesquisa-expedicionária Confina Brasil. A análise das práticas de gestão de dejetos em fazendas de todo o país revela um crescente interesse na transformação desses resíduos em ativos valiosos, seja por motivos de saúde animal, bem-estar das equipes, cumprimento de normas ambientais, ou até mesmo como uma estratégia de diversificação de receita.
A equipe tem observado diversas reformas estruturais nas fazendas, como a construção de canaletas adequadas, baias concretadas para facilitar a limpeza, além de melhorias em lagoas de estabilização e instalação de biodigestores. Esses ajustes visam otimizar o manejo dos dejetos e atender às exigências dos órgãos reguladores.
Segundo o benchmarking Confina Brasil 2023, as maiores concentrações de propriedades que realizam a coleta de dejetos estão nos Estados de Goiás, São Paulo e Mato Grosso. Entre as práticas identificadas, 45% utilizam os resíduos para fertilizar lavouras, 47% para pastagens e 8% vendem o material para gerar uma fonte adicional de renda.
A gestão eficiente dos dejetos tem se mostrado benéfica tanto para a sustentabilidade ambiental quanto para a rentabilidade das propriedades. Nas visitas realizadas pelo Confina Brasil, tornou-se evidente que a pressão de órgãos governamentais para o tratamento adequado dos resíduos está impulsionando a adoção de soluções inovadoras.
A Fazenda Lapa do Lobo, do grupo Algar Farming, localizada em Paranaíba-MS, exemplifica a integração dos dejetos na produção agrícola. A propriedade, com mais de mil hectares de pivô, usa dejetos líquidos na fertirrigação, reduzindo a dependência de adubos químicos e diminuindo os custos de produção. Além disso, a parte sólida dos dejetos é reaproveitada nas lavouras, e o excedente é comercializado, gerando uma receita adicional de cerca de 20 mil toneladas de esterco in natura por ano.
A Fazenda Onça Parda, em Campo Mourão-PR, também adota práticas avançadas ao utilizar biodigestores para produzir biogás, uma fonte de energia elétrica. Todas as baias são concretadas para facilitar a limpeza e a gestão dos dejetos, que são aproveitados tanto na fertirrigação quanto nas áreas agricultáveis.
Em Sapezal-MT, a Fazenda Globo, do Grupo Locks, destaca- -se pela integração de resíduos de algodão na alimentação do gado e pela gestão eficiente dos dejetos. Processando cerca de 11 mil toneladas de biofertilizantes, a propriedade aduba mais de 17 mil hectares de lavouras. O grupo recebeu um investimento de US$ 20 milhões em 2022 para financiar projetos de agricultura regenerativa, o que demonstra o sucesso de suas práticas sustentáveis.
A Fazenda Abacaxi Quebrado, em Colíder-MT, utiliza lagoas de decantação para reaproveitar os dejetos, que são transformados em silagem e devolvidos como insumo para o confinamento.
Um exemplo notável é a Fazenda Conforto, em Nova Crixás-GO, que, com capacidade para 71 mil cabeças, desenvolveu um biofertilizante próprio em parceria com o Instituto de Fosfatos Biológicos (IFB). Desde 2008, a fazenda tem aperfeiçoado seu manejo de dejetos, produzindo 170 mil toneladas de adubo orgânico por ano e comercializando excedentes. O uso de biofertilizantes tem melhorado a fertilidade do solo e gerado uma nova fonte de receita.
O IFB, parceiro do Confina Brasil, utiliza tecnologia avançada para garantir a qualidade dos biofertilizantes, monitorando processos em tempo real e analisando dados de temperatura e umidade.
As práticas observadas pela Confina Brasil em 2024 destacam como a gestão de dejetos não apenas contribui para a redução da dependência de adubos químicos e dos custos de produção, mas também oferece novas oportunidades de receita para os pecuaristas, promovendo uma abordagem sustentável e economicamente vantajosa na pecuária.