Se antes o recorde em Minas era de Pirapora, no Norte de Minas, cidade inscrita parcialmente na Bacia do Rio das Velhas, com 44,1°C, em 26 de abril de 2012, Araçuaí rompeu essa barreira em 2023, tornando-se a cidade mais quente não só de Minas Gerais, como do Brasil. No entanto, a Bacia do Rio das Velhas também sofre com o calor: além de Pirapora, Belo Horizonte também bateu recordes de temperatura. Das dez temperaturas mais altas da série histórica do Inmet, iniciada em 1961, quatro são de 2023, incluindo o recorde: 38,6°C em 25 de setembro. As outras seis marcas pertencem aos anos de 2015 e 2020, tidos, até então, como anos mais quentes da história.
Contrariando também o senso comum, no Sudeste a temperatura é mais alta na primavera que no verão, o que deve trazer alívio às cidades de Minas como Belo Horizonte e Pirapora. A explicação é que no verão há mais precipitação, o que suaviza o calor, em contraste com a primavera, estação mais seca e mais propensa a incêndios – o que, fatalmente, contribui também para o aumento do calor com o envio de gases como o monóxido e o dióxido de carbono para a atmosfera.
Embora o El Niño, fenômeno meteorológico que acontece no Oceano Pacífico e altera as temperaturas nas Américas, estendendo sua influência até no Oceano Atlântico, tenha sua contribuição nas altas temperaturas de 2023, os cientistas alertam para o fato de que anomalias de temperatura no Atlântico foram maiores nesse ano em comparação com 2015, outro ano em que El Niño foi intenso.
Isso pode ser verificado pelo fato de que ano passado a Bacia do Rio Amazonas passou por uma seca devastadora, que transformou o rio mais caudaloso do Brasil num grande vale com poças d’água. Tal fato se deve ao aquecimento acima da média que atingiu o oceano que nos separa da África e da Europa. Isso significa que, mesmo que “O Menino” não estivesse agindo agora, ainda assim estaríamos enfrentando.
O ano de 2023 foi o ano mais quente no planeta em 100 mil anos. A temperatura global excedeu, qua se na metade dos dias do período, 1,5oC – limiar de perigo, segundo cientistas – em comparação aos anos mais quentes da era pré-industrial, entre os anos de 1850 e 1900. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura média esteve 0,69oC acima da média histórica. Entre os estados brasileiros, Minas Gerais tem 12 de 43 cidades com anomalias climáticas no ano. O que assusta é que o El Niño não é o principal responsável pelas altas.
O planeta enfrentou seu ano mais quente em milhares de anos. Em 2023, a temperatura esteve, na média, 1oC mais alta que o período pré-industrial. Eles consideram que estar acima de 1,5oC é um motivo de grande preocupação, pois pode levar a consequências catastróficas para os seres vivos que habitam o planeta. Na média, o planeta esteve 1,48oC mais quente em 2023 em comparação com os anos 1850-1900, muito próximo ao limiar do perigo. Anteriormente, os anos de 2015 e 2020 guardavam as maiores temperaturas – mas foram superados pelo ano que passou.
No Brasil, a temperatura mais alta havia sido alcançada por Bom Jesus, no Piauí, em 2005. Na ocasião, a cidade registrou impressionantes 44,7ºC. Este ano, no entanto, essa marca foi superada por uma cidade mineira: Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, alcançou, em 19 de novembro do ano passado, 44,8ºC – estabelecendo um novo recorde brasileiro. Se no senso comum estamos acostumados a pensar que os lugares mais quentes do Brasil estão localizados no semiárido nordestino ou na capital do Rio de Janeiro, os números nos contradizem: Minas Gerais liderou o ranking de cidades que registraram temperaturas acima de 40oC. O Estado mineiro contou com 12 cidades nessa faixa de calor, seguida por Piauí, com sete cidades, Bahia e Mato Grosso do Sul, com cinco cada.